domingo, 15 de janeiro de 2023

A MISSÃO DO DOENTE Alberto Mendes*

 

A representação que cada um constrói sobre o que traduz o ser e estar doente, sobre o que é o sofrimento, é única para cada um e está em constante transformação. Nos dias de hoje, o mundo ocidental cai muitas vezes na tentação de ver e pensar os doentes como meros recetores de cuidados. Pessoas que pela sua fraqueza e necessidade de cuidados constantes poderiam ser consideradas uma sobrecarga física, emocional e social para as pessoas e para o meio que as rodeia, já sem nada terem a oferecer a elas próprias ou aos outros. Mas tal não é, de todo, verdade. O sofrimento faz parte da existência humana e, apesar de ser preciso fazer todo o possível para o diminuir, pois tal faz parte das exigências fundamentais da existência cristã, ele existe para que o Homem se veja e sinta perante a finitude que define a sua humanidade. Só quando confrontado com a doença e o sofrimento o ser humano tende a questionar a sua existência no mundo e a compreender e interiorizar a vulnerabilidade e fragilidade humanas. É só quando lidamos de perto com o “ser doente” que surge a possibilidade de a pessoa se transcender, na medida em que deverá aceitar conscientemente que a doença e o sofrimento existem na nossa vida e nos obrigam a traçar novos objetivos de vida para chegarmos à salvação. Não é o evitar o sofrimento, a fuga diante da dor, que cura o homem, mas a capacidade de aceitar a tribulação e nela amadurecer, de encontrar o seu sentido através da união com Cristo, que sofreu com infinito amor.
A grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre. Isto vale tanto para o indivíduo como para a sociedade. Uma sociedade que não consegue aceitar os que sofrem e não é capaz de contribuir, mediante a compaixão, para fazer com que o sofrimento seja compartilhado e assumido mesmo interiormente é uma sociedade cruel e desumana. A sociedade, porém, não pode aceitar os que sofrem e apoiá-los no seu sofrimento, se os próprios indivíduos não são capazes disso mesmo; e, por outro lado, o indivíduo não pode aceitar o sofrimento do outro, se ele pessoalmente não consegue encontrar no sofrimento um sentido, um caminho de purificação e de amadurecimento, um caminho de esperança. Aceitar o outro que sofre significa, de facto, assumir de alguma forma o seu sofrimento, de tal modo que este se torna também nosso. E assim, compartilhando o sofrimento, ele é trespassado pela luz do amor em Cristo.
Os doentes, os que sofrem e os que estão mais perto deles devem ser instruídos sobre o valor do sofrimento, ser encorajados a oferecê-lo a Deus, e com esta oferta também eles se tornarem missionários do amor de Deus no mundo.

(Secretariado das Missões)

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