A representação que cada um constrói sobre
o que traduz o ser e estar doente, sobre o que é o sofrimento, é única
para cada um e está em constante transformação. Nos dias de hoje, o
mundo ocidental cai muitas vezes na tentação de ver e pensar os doentes
como meros recetores de cuidados. Pessoas que pela sua fraqueza e
necessidade de cuidados constantes poderiam ser consideradas uma
sobrecarga física, emocional e social para as pessoas e para o meio que
as rodeia, já sem nada terem a oferecer a elas próprias ou aos outros.
Mas tal não é, de todo, verdade. O sofrimento faz parte da existência
humana e, apesar de ser preciso fazer todo o possível para o diminuir,
pois tal faz parte das exigências fundamentais da existência cristã, ele
existe para que o Homem se veja e sinta perante a finitude que define a
sua humanidade. Só quando confrontado com a doença e o sofrimento o ser
humano tende a questionar a sua existência no mundo e a compreender e
interiorizar a vulnerabilidade e fragilidade humanas. É só quando
lidamos de perto com o “ser doente” que surge a possibilidade de a
pessoa se transcender, na medida em que deverá aceitar conscientemente
que a doença e o sofrimento existem na nossa vida e nos obrigam a traçar
novos objetivos de vida para chegarmos à salvação. Não é o evitar o
sofrimento, a fuga diante da dor, que cura o homem, mas a capacidade de
aceitar a tribulação e nela amadurecer, de encontrar o seu sentido
através da união com Cristo, que sofreu com infinito amor.
A grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o
sofrimento e com quem sofre. Isto vale tanto para o indivíduo como para a
sociedade. Uma sociedade que não consegue aceitar os que sofrem e não é
capaz de contribuir, mediante a compaixão, para fazer com que o
sofrimento seja compartilhado e assumido mesmo interiormente é uma
sociedade cruel e desumana. A sociedade, porém, não pode aceitar os que
sofrem e apoiá-los no seu sofrimento, se os próprios indivíduos não são
capazes disso mesmo; e, por outro lado, o indivíduo não pode aceitar o
sofrimento do outro, se ele pessoalmente não consegue encontrar no
sofrimento um sentido, um caminho de purificação e de amadurecimento, um
caminho de esperança. Aceitar o outro que sofre significa, de facto,
assumir de alguma forma o seu sofrimento, de tal modo que este se torna
também nosso. E assim, compartilhando o sofrimento, ele é trespassado
pela luz do amor em Cristo.
Os doentes, os que sofrem e os que estão mais perto deles devem ser
instruídos sobre o valor do sofrimento, ser encorajados a oferecê-lo a
Deus, e com esta oferta também eles se tornarem missionários do amor de
Deus no mundo.
(Secretariado das Missões)
Sem comentários:
Enviar um comentário