domingo, 15 de janeiro de 2023

Mensagem de Fátima


 



A MISSÃO DO DOENTE Alberto Mendes*

 

A representação que cada um constrói sobre o que traduz o ser e estar doente, sobre o que é o sofrimento, é única para cada um e está em constante transformação. Nos dias de hoje, o mundo ocidental cai muitas vezes na tentação de ver e pensar os doentes como meros recetores de cuidados. Pessoas que pela sua fraqueza e necessidade de cuidados constantes poderiam ser consideradas uma sobrecarga física, emocional e social para as pessoas e para o meio que as rodeia, já sem nada terem a oferecer a elas próprias ou aos outros. Mas tal não é, de todo, verdade. O sofrimento faz parte da existência humana e, apesar de ser preciso fazer todo o possível para o diminuir, pois tal faz parte das exigências fundamentais da existência cristã, ele existe para que o Homem se veja e sinta perante a finitude que define a sua humanidade. Só quando confrontado com a doença e o sofrimento o ser humano tende a questionar a sua existência no mundo e a compreender e interiorizar a vulnerabilidade e fragilidade humanas. É só quando lidamos de perto com o “ser doente” que surge a possibilidade de a pessoa se transcender, na medida em que deverá aceitar conscientemente que a doença e o sofrimento existem na nossa vida e nos obrigam a traçar novos objetivos de vida para chegarmos à salvação. Não é o evitar o sofrimento, a fuga diante da dor, que cura o homem, mas a capacidade de aceitar a tribulação e nela amadurecer, de encontrar o seu sentido através da união com Cristo, que sofreu com infinito amor.
A grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre. Isto vale tanto para o indivíduo como para a sociedade. Uma sociedade que não consegue aceitar os que sofrem e não é capaz de contribuir, mediante a compaixão, para fazer com que o sofrimento seja compartilhado e assumido mesmo interiormente é uma sociedade cruel e desumana. A sociedade, porém, não pode aceitar os que sofrem e apoiá-los no seu sofrimento, se os próprios indivíduos não são capazes disso mesmo; e, por outro lado, o indivíduo não pode aceitar o sofrimento do outro, se ele pessoalmente não consegue encontrar no sofrimento um sentido, um caminho de purificação e de amadurecimento, um caminho de esperança. Aceitar o outro que sofre significa, de facto, assumir de alguma forma o seu sofrimento, de tal modo que este se torna também nosso. E assim, compartilhando o sofrimento, ele é trespassado pela luz do amor em Cristo.
Os doentes, os que sofrem e os que estão mais perto deles devem ser instruídos sobre o valor do sofrimento, ser encorajados a oferecê-lo a Deus, e com esta oferta também eles se tornarem missionários do amor de Deus no mundo.

(Secretariado das Missões)

Festa Missionária 2017




Homilia do Sr. Bispo,  D. António Francisco - Na Sé do Porto

1.

É de saudação e de gratidão esta minha primeira palavra nesta hora. Saúdo-vos como Igreja que somos e agradeço-vos pela pelo sentido de missão que vivemos. Saúdo os sacerdotes, diáconos, consagrados e leigos, que diariamente assumem a alegria do Evangelho como sua missão, na bela expressão do Papa Francisco. Saúdo as crianças, jovens, famílias, idosos e doentes de toda a diocese que são os verdadeiros protagonistas da missão da Igreja em cada lugar e em cada tempo.

Saúdo os institutos religiosos e seculares sedeados na nossa diocese e distribuídos pelas 109 comunidades presentes no Porto. Saúdo-vos com particular afecto a vós voluntários que ides receber missão e envio em nome desta Igreja do Porto, para partirdes no próximo verão ao encontro de gentes e lugares de primeira evangelização. Rezo com todos e por todos os que estão connosco em comunhão nesta hora e nesta Festa diocesana das Missões.

Sem todos, e sem cada um de vós, a alegria desta hora não seria possível nem completa. Lembro nesta Eucaristia todos os missionários nascidos na nossa diocese que vivem dispersos pelo mundo na vanguarda da missão.

Peço-vos que agradeçamos todos quantos nos precederam no tempo e no caminho da missão e já partiram ao encontro de Deus. Que eles vivam junto de Deus esta hora e sejam bênção da missão para esta Igreja que tão bem serviram e tanto amaram!

2.

Na caminhada pastoral da nossa diocese dedicamos esta semana à peregrinação – esta peregrinação interior no íntimo de cada um de nós – ou então esta peregrinação que hoje fazemos à nossa Catedral vindos de toda a diocese para, com Maria, nos renovarmos nas fontes da alegria.

Mas neste mesmo espírito de peregrinação vivemos esta semana mundial de oração pelas vocações sob o lema: «Queres dar-te a Deus? Com Maria, impelidos pelo Espírito para a Missão». Como é tão oportuna esta coincidência e tão apropriado este lema para este dia de Festa das missões na Igreja do Porto!

Deus continua a chamar. Os jovens são hoje tão generosos como sempre. Importa que todos nós sejamos mediadores deste chamamento e protagonistas desta confiança no valor da vocação e da generosidade dos chamados.

3.

Esta é a hora de missão por Deus sonhada para a nossa diocese que nos deve envolver a todos e congregar neste caminho sinodal de missão que nos propusemos percorrer.

Recordemos a Palavra de Deus, agora proclamada, a começar pela narração dos Atos dos Apóstolos, na primeira leitura: “No dia de Pentecostes, Pedro, de pé, com os onze apóstolos ergueu a voz e falou ao povo: Seja-me permitido falar com liberdade. Deus ressuscitou Jesus e disso somos testemunhas” (cf. Act 2, 14-33).

Pedro, ele mesmo, escreve na sua primeira Carta, que ouvimos na segunda leitura: “Irmãos, acreditais em Deus que ressuscitou Jesus dos mortos e lhe deu glória, para que a vossa fé e a vossa esperança estejam em Deus” (cf. 1 Ped 1, 17-24)

No evangelho encontramo-nos com a bela narração dos discípulos de Emaús que regressavam de Jerusalém tristes e desanimados pela morte de Jesus. Surpreende-os a estranha presença de um companheiro que a eles se junta no caminho. Quando, na fracção do pão, sentados à mesa da ceia, reconhecem que este estranho companheiro de viagem é Jesus ressuscitado, repartem depressa rumo a Jerusalém para anunciarem aos outros discípulos esta alegria pascal do encontro com Jesus ressuscitado. Aí começa para eles, de imediato, o tempo novo da missão.

4.

A missão começa sempre, também para nós, na certeza de que Deus nos ama e nos quer felizes. Multiplica-se depois em vidas disponíveis, que Deus toca e transforma, em comunidades vivas e dinâmicas que Deus modela, em caminhos aplanados que Deus percorre connosco, como outrora com os discípulos de Emaús.

Na Exortação Apostólica “Alegria do Evangelho”, o Papa Francisco convida-nos a sermos “evangelizadores”, capazes de sair de nós mesmos para irmos ao encontro dos outros. Aqui se inspira a minha mensagem, dita com renovado vigor e acrescido encanto nesta Festa das Missões como iniciativa pioneira do Secretariado Diocesano das Missões.

Evangelizar é ser anunciador das maravilhas de Deus, ter força para proclamar a novidade do evangelho com ousadia, ser capaz de comunicar a boa nova a todos, sem esquecer ninguém. E isto só se consegue, se a nossa acção evangelizadora for “mais ardorosa, alegre, generosa, ousada, cheia de amor até ao fim e feita de vida contagiante”, diz-nos o Papa Francisco.

Viver em Igreja esta paixão evangelizadora é a nossa missão. A minha e a vossa missão. Somos Igreja que vive a alegria do encontro com Cristo, que é “o primeiro e maior evangelizador” (EG n.º12). Somos Igreja de rosto missionário, decidida a ser comunhão de pessoas e de famílias, de comunidades e de movimentos apostólicos, de instituições e de serviços pastorais. Somos Igreja disponível para fazer da evangelização prioridade, urgência e missão.

Fascinados pelo exemplo dos discípulos de Emaús e evangelizadores em nome de Jesus ressuscitado queremos inserir-nos a fundo na sociedade, partilhar a vida com todos, ouvir as suas preocupações, alegrar-nos com os que estão alegres, chorar com os que choram. Não podemos viver distantes dos dramas humanos nem ficar insensíveis aos seus desafios, diz-nos o Papa Francisco.

5.

Acompanha-nos neste caminho de missão, Maria, Mãe de Jesus, com particular proximidade neste centenário das Aparições de Nossa Senhora em Fátima. Com Maria, como nos propomos no lema do Plano Diocesano de Pastoral, queremos renovar-nos nas fontes da alegria!

À Mãe do Evangelho e Rainha das Missões, peço, com as palavras do Papa Francisco, “que nos ajude a anunciar a todos a mensagem da salvação, que nos ensine a acreditar na força revolucionária da bondade, da ternura e do afecto e nos dê a santa audácia de buscar novos caminhos para que chegue a todos o dom da beleza que não se apaga”, a alegria da fé e a certeza das bem-aventuranças (EG, n.º 288).

Porto, Igreja Catedral, 30 de Abril de 2017

António, Bispo do Porto

 


 

AS CRIANÇAS, NATAL E MISSÃO

 “Naquele momento, foram-lhe trazidas crianças para que lhes impusesse as mãos e fizesse uma oração. Os discípulos, porém, as repreendiam. Jesus, todavia, disse: “Deixai as crianças e não impeçais".




PARÓQUIAS COM DINAMISMO MISSIONÁRIO

 


Os anos que passei como missionário na Zambia foram duros mas muito bonitos. Trabalhei vários anos numa paróquia rural em que viajávamos longas distàncias para fazer encontros com os cristãos e celebrar a eucaristia em zonas remotas nas capelas do mato. Passávamos dias nas aldeias, junto das pessoas, a comer e a dormir em condições muito precárias. Nos poucos domingos em que havia Missa naquela zona, os cristãos faziam grandes distâncias a pé para virem à celebração. Nos outros domingos durante o ano, os cristãos reuniam-se nas suas pequenas comunidades cristãs para rezar,  discutir problemas, tomar decisões e programar atividades. São comunidades em que todos participam ativamente. Por outro lado, durante os anos que trabalhei em Lilanda, um enorme bairro pobre da grande cidade de Lusaka, capital da Zâmbia, a situação era completamente diferente. As pessoas vivem apinhadas no bairro, confrontadas com toda a espécie de problemas. Não era preciso viajar muito para encontrar as pessoas. Assim que saía de casa, em cada canto da paróquia tropeçava com os grupos de apostolado em reunião ou com os coros  e grupos litúrgicos a fazerem ensaios para as celebrações. Aos domingos a igreja, onde cabem mais de mil pessoas, está sempre apinhada de gente. Todos participam com alegria ao ritmo de  cânticos lindíssimos: uma alegria genuina que brota do coração; a alegria de nos sentirmos filhos de Deus, amigos de Jesus e membros da Igreja.

Toda esta vitalidade da Igreja africana é fruto de um trabalho pastoral que vem de longe. Desde 1976 que os bispos das conferências episcopais da África oriental (AMECEA) decidiram que a prioridade do trabalho pastoral em todas as dioceses deveria ser a formação de pequenas comunidades cristãs (SCC), tendo como objectivo organizar a vida das paróquias à volta dessa prioridade e de capacitar os cristãos a participar ativamente na vida da Igreja, seguindo o modelo das comunidades dos primeiros cristãos em que “os que tinham abraçado a fé tinham um só coração e uma só alma” (Atos 4, 32); e em que os crentes “eram assíduos ao ensino dos apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações” (Atos 2, 42).

Foi um trabalho pastoral aliciante em que eu participei com muito entusiasmo e com o qual me identifiquei totalmente, ajudando os cristãos a tomar consciência da sua vocação cristã e a criar um estilo de vida de partilha e de serviço nas pequenas comunidades cristãs espalhadas por todo o lado.

Na mensagem para o dia Mundial das Vocações, que este ano se realizou no dia 17 de abril, o Papa Francisco exprime o desejo que cada cristão possa experimentar a alegria de pertencer à Igreja e tenha a possibilidade de participar ativamente na vida e nas atividades das paróquias.

Para isso, é preciso que as paróquias sejam comunidades atrativas e dinâmicas onde se experimenta a alegria do evangelho e se respira fraternidade, dando espaço a cada um para pôr os seus talentos ao serviço da comunidade.

 P.e Dário Balula Chaves

Secretariado Diocesano das Missões

VANGUARDA MISSIONÁRIA – O QUE É

Vanguarda é a parte do exército que vai à frente, o contraponto da retaguarda. Os que abrem caminho, enfrentam e derrotam os maiores e primeiros obstáculos.
Ser “Vanguarda Missionária” é anterior e mais importante que o fazer. Orar e oferecer-se ao Pai precede todo o envio e missão. Diz o Mestre: «A seara é grande e os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara. Ide! Eu vos envio…»(Lc. 10,2.3).
Perante a imensidão da Missão e o nosso limite e incapacidade o que fazer? Não é fazer, mas Ser: Pedir, rezar ao Pai. Eis a primeira Missão – Vanguarda.
Jesus costumava enviar os discípulos, dois a dois a sua frente às terras aonde Ele próprio havia de ir(cf. Lc. 10, 1). Vai à frente quem realiza a Primeira Actividade da Missão: “Pedir ao Pai…”. Vai à frente quem é de confiança e garantia de começo para êxito garantido.
Todos sabemos bem da Catequese e da dinâmica evangelizadora e missionária: “Antes de falares às Pessoas de Jesus – vai a Jesus falar das Pessoas”.
A necessidade de Vanguarda missionária.
São todos os que desejem oferecer-se em oblação ao Senhor, oferecer as suas vidas tal qual. E todos somos chamados: «Peço-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, que vos ofereçais a vós mesmos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, como culto espiritual. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, pela renovação espiritual da vossa mente, para saberdes discernir, segundo a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe é agradável, o que é perfeito»(Rm 12, 1.2). Assim vemos que a Missão começa sempre dentro de cada um e de dentro para fora. Do ser para o fazer, do amar para o dar(-se). Mas há uma falange que vive esta oblação de modo especial, permanente total – os irmãos mais frágeis: os doentes, anciãos, reclusos, sozinhos, missionários idosos, doentes e menos válidos com todos os Irmãos Contemplativos. Estes “pequeninos” são a riqueza da Igreja, Corpo de Cristo. «Agora, alegro-me nos sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja. Foi dela que eu me tornei servidor, segundo a missão que Deus me confiou para vosso benefício: levar à plena realização a Palavra de Deus»(Col. 1, 24.25). A Vida como missão, confiada por Deus em benefício dos Irmãos: eis o núcleo, o cerne de toda a vida missionária! Os irmãos vanguardistas – mais ou menos frágeis – são sujeitos activos da missão, os primeiros Missionários, a quem nos associamos rezando e depois servindo no meio das Casas dos Homens. É a “missão silenciosa no amor” – como santa Teresinha.

No coração da Igreja eu serei o amor – Teresa de Lisieux, Padroeira Missões
«Não obstante a minha pequenez, quereria iluminar as almas como os Profetas, os Doutores, sentia a vocação de ser Apóstolo… Queria ser missionário, não apenas durante alguns anos mas queria tê lo sido desde o princípio do mundo e continuar até à consumação dos séculos. Mas acima de tudo, ó meu amado Salvador, quereria derramar o sangue por Vós até à última gota. Porque durante a oração estes desejos me faziam sofrer um autêntico martírio, abri as epístolas de São Paulo a fim de encontrar uma resposta. Casualmente fixei me nos capítulos XII e XIII da primeira epístola aos Coríntios; e li no primeiro que nem todos podem ser ao mesmo tempo Apóstolos, Profetas, Doutores, etc…. que a Igreja é formada por membros diferentes e que os olhos não podem ao mesmo tempo ser as mãos. A resposta era clara, mas não satisfazia completamente os meus desejos e não me trazia a paz. Continuei a ler e encontrei esta frase que me confortou profundamente: Procurai com ardor os dons mais perfeitos; eu vou mostrar vos um caminho mais excelente. E o Apóstolo explica como todos os dons mais perfeitos não são nada sem o amor e que a caridade é o caminho mais excelente que nos leva com segurança até Deus. Finalmente tinha encontrado a tranquilidade. Ao considerar o Corpo Místico da Igreja, não conseguira reconhecer me em nenhum dos membros descritos por São Paulo; melhor, queria identificar me com todos eles. A caridade ofereceu me a chave da minha vocação. Compreendi que, se a Igreja apresenta um corpo formado por membros diferentes, não lhe falta o mais necessário e mais nobre de todos; compreendi que a Igreja tem coração, um coração ardente de amor; compreendi que só o amor fazia actuar os membros da Igreja e que, se o amor viesse a extinguir se, nem os Apóstolos continuariam a anunciar o Evangelho nem os mártires a derramar o seu sangue; compreendi que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo e que abrange todos os tempos e lugares, numa palavra, que o amor é eterno. Então, com a maior alegria da minha alma arrebatada, exclamei: Ó Jesus, meu amor! Encontrei finalmente a minha vocação. A minha vocação é o amor. Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e este lugar, ó meu Deus, fostes Vós que mo destes: no coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o amor; com o amor serei tudo; e assim será realizado o meu sonho».
Da autobiografia de Santa Teresa do Menino Jesus – (Manuscrits
autobiographiques, Lisieux 1957, 227-229) (Sec. XIX)
E a divina Revelação, em Jesus e S. Paulo : Todos nós, formamos o único Corpo de Cristo que é a Igreja, somos ramos da Videira, Irmãos de Jesus, Filhos do seu e nosso Pai (Jo. 15, 1-8; 20, 17; At.9,5).
Estes vanguardistas – são verdadeiros missionários, os primeiros. Descobrem a sua vida como “missão” e de vanguarda. São eles mesmos sujeitos de toda a missão em Igreja. E enviados dum modo específico e único: vão à frente preparar o terreno, derrotar montanhas, para abrir caminhos através do mar…para Jesus e o seu Reino chegar.
Deus amou tanto o Mundo que lhe entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o que acredita n’Ele não se perca mas tenha a Vida Eterna(Jo. 3,16). Nós anunciamos Cristo crucificado-ressuscitado(1Cor. 1,23).

Se alguém quiser seguir-Me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, todos os dias e siga-Me(Lc. 9,23). Se alguém Me serve, que Me siga, e onde Eu estiver, aí estará também o meu servo.
E, se alguém Me servir, meu Pai o honrará(Jo. 12,26).

Sendo a Igreja, no dizer da teologia oriental, «a humanidade em vias de “trinitarização”, e o universo em vias de transfiguração», a eclesiologia é inseparável dos mistérios que estão no coração da revelação cristã e, portanto, inseparável da espiritualidade cristã em si mesma. A espiritualidade cristã é para ser vivida nessa comunidade chamada Igreja, onde os diferentes carismas e ministérios, suscitados pelo mesmo Espírito, não se opõem ou contrapõem entre si; mas, ao contrário, se complementam na liberdade, tendendo todos, juntos e cada um com a sua originalidade própria, para aquele que é o fim último do projecto cristão: a santidade.

INFÂNCIA MISSIONÁRIA - Crianças ajudam crianças


 

Evangelizar no anonimato para que Cristo se torne conhecido - (O testemunho de uma família que não veio nos jornais)

 

Quando o Senhor diz no Evangelho que não devemos ser auto-propagandistas nem protagonistas das nossas ações, falando acerca da oração, da esmola e do jejum, está-nos a lembrar que o discípulo não deve estar à espera de enfeitar a sua lapela com medalhas, nem pronto para dar o NIB da sua conta bancária ao Espírito Santo para que Ele vá transferindo salários e compensações para a sua conta.
O Evangelho é bem claro quando compara os missionários a “servos inúteis”. Simplesmente se lhes recomenda que façam tudo aquilo que lhes compete pela sua condição de servidores, de acordo com os dons e capacidades recebidas e o reforço abundante da Graça Divina. E devem restituí-lo gratuitamente (porque também de graça receberam os dons que Deus lhes creditou…).
Lógica radicalmente oposta à lógica do mundo, que ainda tece loas e granjeia regalias por vezes escandalosamente chorudas aos que são pródigos em palavras e demagogias fáceis, mas paupérrimos em valores éticos, morais, ou outros e completamente alheios à fraternidade e ao amor para com o próximo.
Já escrevi em textos anteriores que muitos missionários e discípulos do Evangelho testemunharam essa lógica “invertida” a contra-ponto da do mundo, dando tudo o que tinham, incuindo o mais precioso de todos os dons – a própria vida.
Penso hoje, e partilho-o aqui, na história de uma família modesta, oriunda dos arredores de Viseu e que eu vim a conhecer em Moçambique. É uma das muitas famílias anónimas, cuja história não vem publicada nos jornais, muito menos nas revistas cor-de-rosa.
Um dia, nos idos da década de 1950, partiram, depois de venderem a maior parte dos bens que por cá possuíam, para investir naquela parte longínqua do mundo, quando ainda não havia voos regulares de pouco mais de dez horas de viagem por avião. Foram no paquete Angola ou Império (não sei bem…) e demoraram vinte e um dias, entre escalas e enjoos.
Estabeleceram-se perto da Gorongosa, numa pequena localidade internada na savana, de nome Canda, que veio dar o nome a uma pequena firma comercial (duas ou três lojas de comércio ou “cantinas” como por lá se dizia…) denominada “Canda Comercial, Ldª”, em sociedade por quotas com um familiar que já por lá se encontrava e era funcionário público.
Essa família de tradições e vivência profundamente cristãs, era constituída por muitos filhos. Os mais velhos ficaram por cá, a cargo de pessoas das suas relações e confiança e os mais pequenitos seguiram com os pais.
Instalados numa zona onde não havia hospitais, escolas, recursos básicos; onde as vias de comunicação eram estreitas picadas, intransitáveis no tempo das chuvas, a mais de 100 quilómetros da povoação mais próxima – Vila Paiva de Andrade -; onde não havia igreja nem serviços religiosos minimamente organizados (o missionário raramente passava por ali…), o casal assumiu, muito mais que supletivamente, muitas dessas funções. A casa deles, para além de estabelecimento comercial, franqeou as portas e as suas boas vontades a muitos outros serviços: catequese, apoio social a legiões de pobres e famintos, serviços de parto a parturientes que não tinham as mínimas condições de salubridade e higiene, ensino das primeiras letras, assistência médica primária, “escola” de artes e ofícios (alfaiataria, culinária, hábitos de higiene, etc.).
Essa famíla foi, durante muito tempo, uma tábua de salvação para muita gente e a voz humilde e ao mesmo tempo radicalmente profunda da verdade do Evangelho.
Testemunhavam-no, muito tempo depois de terem saído do Canda para Vila Pery (hoje Chimoio) – onde a firma possuía uma loja e porque era imperioso darem aos filhos a possibilidade de prosseguir a sua formação académica – as muitas pessoas que recordavam com imenso carinho e saudade a “família Rocha”. A mãe de família era tratada “mamana” – “mãe”…
Vieram-me à lembrança os nomes de Áquila e Priscila e de Lídia (do tempo de S. Paulo) e de uma legião de casais e famílias de todos os tempos que deram e dão à Igreja sinais vivos da presença de Cristo e da Boa-Nova da Salvação.
Cá, como em longínquas terras, continua a haver tanta gente que dá o melhor que tem das suas vidas pela causa de Cristo e da Sua Igreja.
A evangelização não é um título de honra, mas uma necessidade que se nos impõe como batizados. “Ai de mim se não evangelizar!” – Lembra-nos o “Apóstolo dos Gentios” – (Paulo).
Porque vai longa a crónica, aqui fica este pequeno testemunho.
 

Diác. António Poças

Pontos de contacto pessoal com as missões em Moçambique

 

O trabalho missionário da Igreja contribuiu sobremaneira pra a promoção social de povos tribais africanos (nativos) subdesenvolvidos no interior da savana moçambicana, de modo muito semelhante ao que aconteceu na Europa durante a “longa noite da Idade Média”.
No “velho continente” foi a Igreja que construiu hospitais, que edificou centros de ensino de que sairam universidades famosas, centros de cultura, sobretudo sediados em mosteiros ou nas suas cercanias, que ainda hoje são uma referência incontornável (Montecassino, Alcobaça, Universidade de Coimbra e tantos outros: o primeiro em Itália e os outros três aqui citados, em Portugal…), que promoveu a agricultura e deu asilo aos pobres, doentes e ligiões de carenciados de toda a espécie.
Em Moçambique, onde vivi mais de 19 anos: desde a idade dos onze até aos 30, fui testemunha muito próxima da obra empreendida pelos padres Franciscanos, nas províncias de Manica e Sofala, bem como nas regiões de João Belo e Gaza, estas mais a cargo dos padres Vicentinos, comummente conhecidos por Lazaristas e pelo ramo feminino das religiosas de S. Vicente de Paulo (Paulistas).
Cada qual com o seu carisma, estas instituições missionárias fundaram seminários, colégios, dedicaram-se à formação de clero autóctone, dedicaram-se à evangelização do mundo rural tão carecido de meios e atrasado em conhecimentos básicos, transmissão prática de técnicas sobre o arroteio e cultivo das terras, ao mesmo tempo que promoviam o serviço social de apoio aos mais pobres, numa altura em que as administrações e autoridades coloniais da “Província” descuravam essas regiões mais remotas e necessitadas de todo o tipo de apoio básico.
Durante os meus anos de seminário tive oportunidade de beneficiar de vistas a diversas missões nos arredores de Lourenço Marques (hoje Maputo: Infulene, Alvor (estas perto da capital), bem como em Amatongas, Marera, Manica, Jécua (estas em Manica e Sofala, a cargo dos Franciscanos).
Foi uma (con) vivência frutuosa que consolidou em mim as raizes de um entendimento de conteúdo missionário, que em muito contribuíu para a minha visão acerca da Igreja, no sentido de uma autêntica como necessária expressão da sua catolicidade.
Dela recolho, agora, preciosos elementos, nestes tempos em que a Europa parece prescindir de Deus e renega a sua identidade cristã, esquecendo-se de que, assim, se distancia cada vez mais das suas origens e apaga a própria memória: dados que são fundamentais se quiser alavancar um futuro consistente…
Lembro-me do seminário de Magude onde várias gerações de seminaristas naturais de Moçambique receberam a sua formção e por onde passaram os primeiros futuros padres Vicentinos autóctones, do qual o padre Domingos – irmão do bispo emérito de Castelo Branco, Dom Augusto César Alves Ferreira da Silva, que antes tinha sido bispo de Tete (que nos remete para a colossal barragem de Cabora-Bassa) – foi reitor. Estes dois irmãos padres pertenceram aos Vicentinos.
Na missão de Macarretane (depois aldeia da Barragem, no colonato do Limpopo) privei com o padre Miguel Moreira de Lemos, natural de Agilde – Celorico de Basto – hoje com a proveta idade de 90 anos e a residir na África do Sul, ao que me consta, nos meus tempos de seminário.
Para não me alongar neste breve texto, deixarei para outras crónicas algumas histórias reais de testemunhos de leigos que deram e continuam a dar muito de si pela evangelização em terras distantes dos seus lugares de conforto, com meios escassos, mas possuídos de uma fé enriquecida pela Graça e Amor de Deus repercutido no amor ao próximo, ao jeito do Evangelho. Esses testemunhos contribuem para confirmar a vocação missionária da Igreja e fundamentar a consciência comum dos batizados de que onde quer que estejam, aí está o lugar e o ambiente da sua missão.


Diác. António Poças.
Outubro de 2016 – Mês dedicado às missões.





Imbuídos do espírito de missão

 

 Toda a Igreja é missionária. E não pode descuidar-se dessa missão, sob pena de trair o mandato do Senhor Jesus: -

“Ide! Ide por todo o mundo e anunciai a Boa-Nova”.
Por isso seria tremendamente redutor e abusivo pensar que a missão se situa num mundo longínquo, circunscrita a povos que ainda não conhecem Cristo nem a Sua mensagem de Libertação que enche de novidade jubilosa os corações.
Não! – Quando falamos em missões, não podemos excluir ninguém. Nenhum batizado e fiel ao sopro do Espírito que recebeu no Batismo, poderá eximir-se desse desígnio. Porque o Batismo nos configura ao próprio Cristo – Sacerdote, Profeta e Rei. Assim, ficamos inseridos na Sua vida e também no Seu Agir.
Por conseguinte uma certa mentalidade do passado que dava a entender que a “missão” ficava longe, noutras terras e noutros continentes algo estranhos à nossa perceção e alcance, é uma ideia peregrinamente estranha e obstrusa. Não ficam no “Ultramar”, muito menos no “Espaço” os territórios de missão. O termo “Ad Gentes” usado pelos documentos conciliares, muito rico na sua substância, pode levar alguém a pensar isso, de forma precipitada.
Outrora, no longo espaço de tempo compreendido entre os séculos XVI e o século XIX (e mesmo, até à primeira metade do século XX) a missão estava associada às descobertas e à implantação da soberania nacional nos territórios em vias de colonização (no que aos Portugueses e Espanhóis e depois aos Ingleses e Holandeses diz respeito).
Hoje todos vamos tomando consciência de que a Europa de raízes cristãs está envelhecida, anémica. Infelizmente perdeu a memória das suas origens e raízes cristãs.
Por essa razão já não nos surpreende que um espírito missionário revigorado se imponha aos homens e mulheres do nosso tempo, como discípulos e enviados desta hora a este “sitz in leben” caraterizado pelo materialismo, pragmatismo cinzento (cito o Papa Francisco), pelo hedonismo despersonalizante e acrítico e pelo sincretismo paganizante, que vivem e proliferam portas meias connosco e envolvem a nossa circunstância cultural económica, política e, porque não dizê-lo, eclesial (!…).
Talvez sintamos a “tentação” minimalista de recordar com nostalgia a figura dos missionários que partiam (e partem ainda hoje) para longe, muitas vezes arriscando a vida e desprezando o conforto e a riqueza material. Devemos estar-lhes supinamente reconhecidos pelo imenso trabalho apostólico, cultural, social, humanitário, etc., desenvolvido, em terras e povos que o poder político ignorava, mas não nos ludamos com essa mentalidade restritiva e saudosista. Também não podemos seixar de olhar com confiança renovada e dar graças ao Pai do Céu por tantos voluntários leigos e religiosos (sobretudo religiosas) que trabalham em zonas de perigosidade e risco de vida, em defesa dos direitos dos pobres, perseguidos e oprimidos.
Mas a missão está à nossa beira. Começa na casa de cada um, na família de cada um, na fábrica/empresa de cada um, no bairro de cada um, nos diversos ambientes onde cada um é chamado a testemunhar a presença de Deus e a alegria do Evangelho.
Depois desta pequena introdução, terei todo o gosto em enviar alguns textos com testemunhos de pessoas que conheci, as quais se deram de corpo e alma à missão evangelizadora.
Grato ao padre Alípio pelo convite que me fez, ao qual respondo com muito prazer, ciente da minha pobreza sufragada pela vontade de estar ao serviço. Penso que também isso faça parte da missão.
Desejo ao Secretariado Diocesano das Missões um bom e profícuo trabalho.

Diác. António Poças

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Festa das missões


Caros amigos, que acompanhais solidariamente na oração a nossa presença em Angola, saúdo-vos a todos no Coração de Jesus, nosso modelo e inspiração. No mês de agosto, começa a ser uma salutar tradição na nossa comunidade de Lwena, é o mês dos voluntários. Tivemos entre nós um grupo de três voluntários que, de forma muito generosa e empreendedora, deram um pouco de si mesmos, nas áreas da formação para a liderança cristã, alfabetização e prática da língua inglesa. O Eduardo, a Carina e a Carolina deixaram muito boas recordações nas crianças, adolescentes e jovens da nossa paróquia com a sua capacidade de sair de si mesmos para estar no meio deles de forma alegre e despretensiosa, ultrapassando preconceitos e distâncias; foi uma experiência que marcou profundamente as suas vidas, sobretudo as dos voluntários que, em reacções posteriores, confessaram como tinham sido tocados interiormente. Finalmente, no mês de Outubro, concluindo as celebrações paroquiais do Ano da Misericórdia, fizemos uma peregrinação a pé ao Moxico-Velho (fica a uns 30 quilómetros da nossa paróquia). Com a bênção inicial do pároco caminhamos juntos até ao santuário de Nª Srª de Fátima, no Moxico-Velho, onde se encontra uma das portas santas da diocese de Lwena. Cantando e partilhando a vida, crianças, jovens, adultos e até os mais velhos, fizemos a nossa caminhada de forma serena e amiga. Como longo era o caminho e o andamento variava ao ritmo mais rápido ou lento das passadas dos peregrinos, fizemos algumas pausas para juntar a comunidade dos peregrinos e rezar juntos uns pelos outros. E estamos quase no fim de mais um ano. Vamos terminá-lo, como diocese, com a celebração da ordenação sacerdotal de um novo sacerdote diocesano, o futuro Padre Leonardo. É uma bênção do Senhor para uma diocese tão carenciada de sacerdotes. Agradeço a todos, mais uma vez, a vossa oração. Que esse vínculo nos mantenha solidários e unidos apesar da distância. No Coração de Jesus, 

Pe. Amaro Jorge SCJ


INFÂNCIA MISSIONÁRIA 4.º DOMINGO