segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

D. João de França Castro e Moura (Bispo do Porto)

D. João de França Castro e Moura nasceu a 19 de março de 1804, na freguesia de S. Cosme de Gondomar, tendo por pais António João de França e D. Rosa de França Castro e Moura, proprietários naquela freguesia.

Depois de começar na escola primária da sua terra o primeiro estudo das letras, foi confiado à solicitude de um tio materno, Dr. José de França Castro e Moura, que era então Vigário Geral da Comarca eclesiástica de Penafiel e em cuja casa deu entrada em outubro de 1815, com pouco mais de 11 anos de idade.

Ali estudou Latinidade e Filosofia e, tendo sentido vocação para a vida eclesiástica, ou sendo para ela encaminhado por influência do tio e da família, foi em 1820 estudar Francês, Retórica e Teologia no Seminário do Porto.

Foi como aluno desse Seminário que recebeu a Tonsura e Ordens Menores. Mas o desejo de dar à sua vida uma irradiação mais larga e uma formação espiritual mais profunda, e o pensamento de algum dia vir a ser missionário em terras distantes, fizeram-no bater à porta da Congregação da Missão e da sua Casa Provincial de Rilhafoles, em Lisboa, na qual ingressou, como noviço, em outubro de 1823.

Terminado o seu Noviciado, ou ao menos o primeiro ano estritamente exigido, mesmo aos que entram já clérigos, mas antes de findos os dois anos que precedem, normalmente, a emissão dos votos religiosos, pode ele ver satisfeitos os seus desejos de vida missionária em terras de Oriente.

D. João de França Castro e Moura 

Textos Apoio – Missão pelo Sofrimento De Spe Salvi


CARTA ENCÍCLICA SPE SALVI DO SUMO PONTÍFICE BENTO XVI AOS BISPOS AOS PRESBÍTEROS E AOS DIÁCONOS ÀS PESSOAS CONSAGRADAS E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS SOBRE A ESPERANÇA CRISTÃ

36. Tal como o agir, também o sofrimento faz parte da existência humana. Este deriva, por um lado, da nossa finitude e, por outro, do volume de culpa que se acumulou ao longo da história e, mesmo atualmente, cresce de modo irreprimível. Certamente é preciso fazer tudo o possível para diminuir o sofrimento: impedir, na medida do possível, o sofrimento dos inocentes; amenizar as dores; ajudar a superar os sofrimentos psíquicos. Todos estes são deveres tanto da justiça como da caridade, que se inserem nas exigências fundamentais da existência cristã e de cada vida verdadeiramente humana. Na luta contra a dor física conseguiu-se realizar grandes progressos; mas o sofrimento dos inocentes e inclusive os sofrimentos psíquicos aumentaram durante os últimos decénios. Devemos – é verdade – fazer tudo por superar o sofrimento, mas eliminá-lo completamente do mundo não entra nas nossas possibilidades, simplesmente porque não podemos desfazer-nos da nossa finitude e porque nenhum de nós é capaz de eliminar o poder do mal, da culpa que – como constatámos – é fonte contínua de sofrimento. Isto só Deus o poderia fazer: só um Deus que pessoalmente entra na história fazendo-Se homem e sofre nela. Nós sabemos que este Deus existe e que por isso este poder que «tira os pecados do mundo» (Jo 1,29) está presente no mundo. Com a fé na existência deste poder, surgiu na história a esperança da cura do mundo. Mas, trata-se precisamente de esperança, e não ainda de cumprimento; esperança que nos dá a coragem de nos colocarmos da parte do bem, inclusive onde a realidade parece sem esperança, cientes de que, olhando o desenrolar da história tal como nos aparece exteriormente, o poder da culpa vai continuar uma presença terrível ainda no futuro.

CARTA ENCÍCLICA SPE SALVI 

Formação Presbiteral para a Missão

 

FORMAÇÃO PRESBITERAL PARA A MISSÃO

03. As características distintivas e conteúdos fundamentais

O caminho formativo dos sacerdotes desde os anos do Seminário é descrito na presente Ratio Fundamentalis partindo de quatro características distintivas da formação, apresentada como única, integral, comunitária e missionária.

A formação dos sacerdotes é a continuação de um único “caminho de discipulado”, que se inicia com o batismo, se aperfeiçoa com os demais sacramentos da iniciação.

Uma vez que o “discípulo sacerdote” sai da comunidade cristã e a essa retorna, para servi-la e guiá-la como pastor, a formação se caracteriza naturalmente como missionária, uma vez que tem como meta a participação na única missão confiada por Cristo à Sua Igreja, isto é, a evangelização, em todas as suas formas.

A ideia de fundo é que os Seminários possam formar discípulos missionários “enamorados” do Mestre, pastores “com o cheiro das ovelhas” que vivam no meio delas para servi-las e conduzi-las à misericórdia de Deus. Por isso, é necessário que cada sacerdote se sinta sempre um “discípulo a caminho”, carente constantemente de uma formação integral, compreendida como contínua configuração a Cristo.

33. O presbítero, membro do Povo santo de Deus, é chamado a cultivar o seu espírito missionário, exercendo com humildade a função pastoral de guia dotado de autoridade, mestre da Palavra e ministro dos sacramentos, ao mesmo tempo que pratica uma fecunda paternidade espiritual.

44. Os seminaristas, nas diversas etapas do seu caminho, precisam de ser acompanhados de modo personalizado por aqueles que são destinados a ter um papel na obra educativa, cada qual segundo a função e as competências que lhe são próprias. O propósito do acompanhamento pessoal é aquele de levar a cabo o discernimento vocacional e formar o discípulo missionário.

61. O conceito de discipulado. O discípulo é aquele que é chamado pelo Senhor a ficar com Ele (cf. Mc 3,14), segui-lo e tornar-se missionário do Evangelho. Ele aprende quotidianamente a entrar nos segredos do Reino de Deus, vivendo uma relação profunda com Jesus.

88. Alguns sacerdotes pertencem também aos novos movimentos eclesiais, nos quais encontram um clima de comunhão e recebem força para um renovado impulso missionário; outros vivem uma consagração pessoal nos Institutos Seculares «que apresentam como nota específica a diocesanidade», sem que neles estejam necessariamente incardinados.

91. A comunidade cristã é reunida pelo Espírito para ser enviada em missão; então, a aspiração missionária e a sua concreta passagem à prática são algo que pertence ao ser de todo Povo de Deus, o qual deve colocar-se constantemente “em saída”, por que «a alegria do Evangelho, que preenche a vida da comunidade dos discípulos, é uma alegria missionária». Esse impulso missionário diz respeito, em modo ainda mais especial, àqueles que são chamados ao ministério sacerdotal, como fim e horizonte de toda a formação.  

A missão revela-se como um outro fio condutor (cf. Mc 3,13-14), que une também as dimensões já mencionadas, anima-as e fecunda-as, e permite que o sacerdote, uma vez formado humana, espiritual, intelectual e pastoralmente, possa viver plenamente o próprio ministério, na medida em que «é chamado a ter espírito missionário, isto é, um espírito verdadeiramente “católico” que, partindo de Cristo, se dirige a todos, a fim de que “todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4)».

92. O conceito de formação integral reveste a máxima importância …

113. Como componente da dimensão espiritual, deverão estar presentes o conhecimento e a meditação dos Padres da Igreja, testemunhas da vida milenária do Povo de Deus. Nos Padres, «o sentido da novidade da vida cristã unia-se a certeza da fé. Daí emanava nas comunidades cristãs do seu tempo uma “vitalidade explosiva”, um fervor missionário, um clima de amor que inspirava as almas ao heroísmo da vida quotidiana».

171. No contexto do aumento da mobilidade humana, em que o mundo inteiro se transformou numa “aldeia global”, não poderá faltar no plano de estudos a missiologia, como genuína formação à universalidade da Igreja e promoção do impulso evangelizador, não somente como missio ad gentes, mas também como nova evangelização.

IN: Ratio Fundamentalis – O Dom da Vocação Presbiteral,

Congregação para o Clero,

8 de Dezembro de 2016