domingo, 15 de janeiro de 2023

Pontos de contacto pessoal com as missões em Moçambique

 

O trabalho missionário da Igreja contribuiu sobremaneira pra a promoção social de povos tribais africanos (nativos) subdesenvolvidos no interior da savana moçambicana, de modo muito semelhante ao que aconteceu na Europa durante a “longa noite da Idade Média”.
No “velho continente” foi a Igreja que construiu hospitais, que edificou centros de ensino de que sairam universidades famosas, centros de cultura, sobretudo sediados em mosteiros ou nas suas cercanias, que ainda hoje são uma referência incontornável (Montecassino, Alcobaça, Universidade de Coimbra e tantos outros: o primeiro em Itália e os outros três aqui citados, em Portugal…), que promoveu a agricultura e deu asilo aos pobres, doentes e ligiões de carenciados de toda a espécie.
Em Moçambique, onde vivi mais de 19 anos: desde a idade dos onze até aos 30, fui testemunha muito próxima da obra empreendida pelos padres Franciscanos, nas províncias de Manica e Sofala, bem como nas regiões de João Belo e Gaza, estas mais a cargo dos padres Vicentinos, comummente conhecidos por Lazaristas e pelo ramo feminino das religiosas de S. Vicente de Paulo (Paulistas).
Cada qual com o seu carisma, estas instituições missionárias fundaram seminários, colégios, dedicaram-se à formação de clero autóctone, dedicaram-se à evangelização do mundo rural tão carecido de meios e atrasado em conhecimentos básicos, transmissão prática de técnicas sobre o arroteio e cultivo das terras, ao mesmo tempo que promoviam o serviço social de apoio aos mais pobres, numa altura em que as administrações e autoridades coloniais da “Província” descuravam essas regiões mais remotas e necessitadas de todo o tipo de apoio básico.
Durante os meus anos de seminário tive oportunidade de beneficiar de vistas a diversas missões nos arredores de Lourenço Marques (hoje Maputo: Infulene, Alvor (estas perto da capital), bem como em Amatongas, Marera, Manica, Jécua (estas em Manica e Sofala, a cargo dos Franciscanos).
Foi uma (con) vivência frutuosa que consolidou em mim as raizes de um entendimento de conteúdo missionário, que em muito contribuíu para a minha visão acerca da Igreja, no sentido de uma autêntica como necessária expressão da sua catolicidade.
Dela recolho, agora, preciosos elementos, nestes tempos em que a Europa parece prescindir de Deus e renega a sua identidade cristã, esquecendo-se de que, assim, se distancia cada vez mais das suas origens e apaga a própria memória: dados que são fundamentais se quiser alavancar um futuro consistente…
Lembro-me do seminário de Magude onde várias gerações de seminaristas naturais de Moçambique receberam a sua formção e por onde passaram os primeiros futuros padres Vicentinos autóctones, do qual o padre Domingos – irmão do bispo emérito de Castelo Branco, Dom Augusto César Alves Ferreira da Silva, que antes tinha sido bispo de Tete (que nos remete para a colossal barragem de Cabora-Bassa) – foi reitor. Estes dois irmãos padres pertenceram aos Vicentinos.
Na missão de Macarretane (depois aldeia da Barragem, no colonato do Limpopo) privei com o padre Miguel Moreira de Lemos, natural de Agilde – Celorico de Basto – hoje com a proveta idade de 90 anos e a residir na África do Sul, ao que me consta, nos meus tempos de seminário.
Para não me alongar neste breve texto, deixarei para outras crónicas algumas histórias reais de testemunhos de leigos que deram e continuam a dar muito de si pela evangelização em terras distantes dos seus lugares de conforto, com meios escassos, mas possuídos de uma fé enriquecida pela Graça e Amor de Deus repercutido no amor ao próximo, ao jeito do Evangelho. Esses testemunhos contribuem para confirmar a vocação missionária da Igreja e fundamentar a consciência comum dos batizados de que onde quer que estejam, aí está o lugar e o ambiente da sua missão.


Diác. António Poças.
Outubro de 2016 – Mês dedicado às missões.





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